Dados do Acervo - Teses

Número de Chamada   
 
552.3    D144e    T   
Autor Principal Dall'Agnol, Roberto
Entradas Secundárias - Autor Lelubre, Maurice, 1916-2005, orient.
Université Paul Sabatier. Laboratoire de Géologie-Pétrologie
Título Principal Études sur des granites du type "rondonian" en Amazonie Orientale et leurs transformations tardi-magmatiques / par Roberto Dall'Agnol ; Maurice Lelubre - rapporteur
Publicação 1980.
Descrição Física xxxii, 348 f. : il. ; 30 cm
Notas Tese (doutorado) - Université Paul Sabatier, Laboratoire de Géologie-Pétrologie, 1980
Inclui bibliografias
Resumo: A parte central de nosso trabalho consiste num estudo petrográfico-petrológico dos maciços graníticos (anorogênicos ou pós-tectônicos) Antônio Vicente, Velho Guilherme, Mocambo, Jamon e Serra dos Carajás (situados no interflúvio Xingu-Araguaia) e do maciço sienítico anorogênico Canamã (interflúvio Juruena-Aripuanã). Ela é precedida de uma breve introdução sobre a geologia regional. Nos capítulos finais são feitas comparações a diferentes níveis: (1) entre os diferentes maciços estudados; (2) entre estes mesmos maciços e outros granitos análogos da Amazônia; (3) entre a província dos granitos da Amazônia e a dos "younger granites" da Nigéria. Nosso estudo baseia-se fundamentalmente na petrografia clássica (análises modais; texturas; relações entre os diferentes minerais; tipo e forma das inclusões; variações de composição e zoneamento de minerais tais como o plagioclásio), mas apóia-se em uma quantidade importante de análises em rocha total e de minerais, bem como em outros estudos na microssonda. Além disso, nós procuramos confrontar nossas interpretações com os dados da Petrologia Experimental acumulados nos últimos trinta anos (em particular com aqueles referentes aos sistemas graníticos e ao equilíbrio cristais-soluções), da mesma forma que com as noções teóricas existentes na bibliografia moderna. As conclusões que nos parecem mais importantes são as seguintes: 1- Através de um estudo clássico de petrografia nos foi possível delinear a seqüência de cristalização dos minerais nos vários maciços e de decifrar, em alguns casos, ao menos parcialmente, a historia da sua cristalização. Considerando que estes maciços eram até então praticamente inexplorados e a limitação de nossos dados iniciais, nós podemos concluir que os resultados obtidos confirmam a validade do método. Em particular, o estudo das inclusões nos parece extremamente útil, contrariamente ao sugerido por LUTH (1976). É possível que algumas inclusões correspondam simplesmente a líquidos aprisionados durante o crescimento dos minerais (logo desprovidas de significado para a análise textural), mas nós não concordamos com a generalização deste fenômeno, que nos parece extremamente duvidosa. Sobretudo no maciço Jamon (cujo estudo textural foi mais aprofundado), as inclusões indicam perfeitamente os diversos estágios da evolução magmática do granito. 2- No caso de nossos leucogranitos (GMAV, GHAV, LGVG), nós procuramos apoiar nossas observações nos estudos experimentais sobre o sistema haplogranítico (Qz-Ab-Or-H20), em razão de seus teores muito limitados em ferromagnesianos e An (composições normativas). Nós percebemos que, mesmo nestas condições, não havia uma boa correspondência entre a evolução da cristalização e a natureza das fases, previstas experimentalmente, e o que havíamos observado através da petrografia. Nós concluímos, graças às evidências petrográficas da abundância de flúor no magma gerador destes granitos e aos trabalhos experimentais de WYLLIE e TUTTLE (1961), GLYUK e ANFILOGOV (1973) e KOVALENKO (1977), que este contraste se deve a influência marcante do flúor sobre a evolução da cristalização. Sua presença leva a uma diminuição notável da T do solidus e explica a formação de granitos subsolvus - tais como os granitos mencionados - a fracas pressões (<3,5kb) e deve, também, favorecer as transformações tardi-magmáticas (entre as quais a albitização). A cristalização de fluorita, topázio e siderofilita torna-se igualmente lógica. Logo, para compreender a evolução deste tipo de granito, é fundamental considerar o sistema granito-H20-HF, o único capaz, no nosso entender, de explicar de modo razoável a cristalização dos mesmos. 3- O exame da bibliografia referente às rochas graníticas mostra que os fenômenos de exsolução foram muitas vezes considerados como capazes de explicar algumas das texturas observadas (TUTTLE, 1952; TUTTLE e BOWEN, 1958; RAMBERG, 1962; HALL, 1966; CARSTENS, 1967). É indiscutível que a exsolução poderia explicar algumas destas texturas, como, por exemplo, as auréolas de albita associadas aos mirmequitos nos contactos P1-Fk. Entretanto a importância global dada a este fenômeno, nos parece muitas vezes exagerada. Acreditamos, por exemplo, que a separação de cristais independentes de P1 e Fk (não confundir com as pertitas), a partir de um feldspato alcalino único por exsolução (proposta por TUTTLE, op. cit., e TUTTLE e BOWEN, op. cit., para explicar a formação de alguns granitos subsolvus) muito improvável. No nosso entender a interpretação destes autores foi condicionada pela ausência na época de dados experimentais sobre os sistemas Qz-Ab-Or-H20 (a pressões superiores a 4Kb), Qz-Ab-Or-An-H20 e granito H20-HF. Eles procuravam explicar a formação de granitos subsolvus a fracas pressões. Posteriormente esta hipótese foi muitas vezes adotada, sem maiores discussões. Ela deve, em conseqüência, ser examinada com atenção em cada caso particular. 4- Nossos leucogranitos (GMAV, GHAV, LGVG, GMVMO) foram intensamente afetados pelas transformações tardi-magmáticas. Estas podem ser totalmente explicadas pelas reações de troca entre as soluções supercríticas (enriquecidas em F e presentes no final da cristalização) e as fases cristalinas formadas anteriormente (ORVILLE, 1962 e 1963; WYART e SABATIER, 1962). As transformações mais importantes são: a substituição (geralmente parcial) do plagioclásio primário por sericita-muscovita, acompanhadas quase sempre por fluorita ou topázio; a muscovitização e a cloritização da biotita; a muscovitização, argilização e albitização do feldspato potássico; a cristalização de topázio ao longo dos contatos entre diferentes minerais. Estas transformações se desenvolvem em duas etapas subseqüentes. Na primeira o essencial é a transformação do P1, que causa uma diminuição do teor em sódio (rocha total), ao passo que as soluções são enriquecidas neste mesmo elemento. A segunda tem na albitização seu ponto culminante e constitue, de certo modo, uma resposta à anterior. Isto explica o fato de não se observar - exceto quando a albitização é muito intensa - enriquecimento da rocha em sódio. Nós distinguimos dois grupos de granitos em função da intensidade e do tipo das transformações: (1) leucogranitos ricos em fluorita, com muscovitização importante (em particular do Fk), praticamente sem topázio e pouco albitizados (GMAV e GMVMO); (2) leucogranitos onde se observa o inverso (GHAV e LGVG). Uma outra conclusão é que a natureza das soluções e transformações tardias apresentadas por cada variedade de granito dependem diretamente da composição do magma primitivo e da posição estrutural no maciço destas mesmas variedades. A cristalização de fluorita ou topázio é condicionada fundamentalmente pela disponibilidade ou não de cálcio. No primeiro caso há formação de fluorita; no segundo de topázio. Logo, é muito provável que o topázio substitua somente o plagioclásio albítico, o que justificaria a sua ausência na maior parte dos granitos e a cristalização, comparativamente mais freqüente, da fluorita. 5- Torna-se evidente, após as conclusões precedentes (3 e 4), que, nos nossos leucogranitos, a albitização é explicada de modo mais lógico pelas reações de troca que pela exsolução. Entretanto, nós acreditamos que não existe obrigatoriamente uma rejeição entre estas duas hipóteses. Ou seja, é possível que elas possam ser aplicadas independentemente, em rochas com evoluções magmáticas distintas. Isto explicaria a polêmica em torno da questão da origem da albita tardia (Cf. SMITH, 1974). Nós tampouco eliminamos a possibilidade que a exsolução possa se produzir nos nossos granitos, se bem que sua importância deva ser sem dúvida limitada. As "swapped rims" formadas pela albita, o aspecto deformado desta e a forma "em dedos" ou agulhas que ela assume eventualmente, nos parecem perfeitamente explicáveis pelas considerações de RAMBERG (1962), mesmo se nós atribuímos uma outra origem para a albita. 6- Nós demonstramos que há uma relação íntima entre as transformações tardi-magmáticas observadas nos nossos leucogranitos e os fenômenos geradores das mineralizações que são associadas aos mesmos. Torna-se, em conseqüência, evidente que a natureza e a importância destas transformações tardias representam um critério muito útil para a prospecção mineral. Além disso, a riqueza destes granitos em flúor conduz a diminuição da temperatura do solidus, que secciona o solvus e torna possível a formação de granitos subsolvus (os magmas pobres em fluidos e, sobretudo em flúor, formarão granitos hipersolvus). O tipo de granito constitui, assim, uma outra característica que revela as possibilidades de existência de mineralizações associadas a um maciço granítico. 7- Uma das características marcantes dos nossos leucogranitos (observada também na Nigéria - JACOBSON e ai., 1958; MACLEOD e al., 1971 - e no Ahaggar - BOISSONNAS, 1973) é a abundância da fluorita e a ausência de turmalina. Ao passo que em outros leucogranitos observa-se o contrário (LAMEYRE, 1966; CHAROY, 1979; DALL'AGNOL e ABREU, 1976). No nosso entender estes dois tipos de leucogranitos se distinguem também por uma série de outras características (abundância da muscovita; presença ou ausência de minerais aluminosos, tais como sillimanita e andalusita; aspecto do feldspato potássico e do quartzo; natureza dos minerais acessórios). Nós podemos concluir que estes dois tipos de leucogranitos derivam de magmas composições diferentes e é provável que suas condições de cristalização tampouco coincidam. Logo, sua separação é essencial para a compreensão deste tipo de rochas. 8- A "mise en place" dos granitos tipo Velho Guilherme se efetua, sem dúvida, à pequenas profundidades e, em conseqüência, a pressões pouco elevadas. É muito provável que durante a ascensão final do magma, o mesmo ainda se encontre quase que inteiramente líquido. Em função disso a maior parte da cristalização se desenvolve a fracas pressões (<4Kb) e deve ser relativamente rápida. Estas condições de cristalização explicam as relações texturais observadas entre os diferentes minerais e a ausência de orientação clara nestes granitos. 9- Nosso estudo sobre os sienitos do maciço Canamã demonstra o interesse das observações sobre o zoneamento do feldspato potássico, nos casos em que o mesmo é nítido. Este zoneamento, revelado geralmente pela variação dos tipos e da densidade densidade das pertitas, é intimamente ligado à evolução magmática das rochas em questão e à sua posição na série de diferenciação proposta. Além disso, ele realça a união de cristais de feldspato potássico, seguida de crescimento posterior (synneusis). Esta zonação constitui, por isso, um aspecto que não deve ser deixado de lado nas descrições petrográficas. 10- A pesquisa desenvolvida sobre os maciços Jamon e Antônio Vicente (em particular sobre o primeiro) nos permite de concluir que, apesar das imensas dificuldades inerentes ao meio amazônico, pode-se chegar a compreensão dos aspectos essenciais da evolução magmática deste tipo de maciço granítico, desde que se disponha de uma rede de amostragem relativamente regular. Isto através de um estudo petrográfico aprofundado. O estudo estrutural consistirá, no entanto, num grande problema, pois as relações de contacto entre as diversas variedades de granito e do maciço com a sua encaixante serão quase sempre encobertas pela floresta. Para resolver esta questão nós seremos provavelmente obrigados a esperar a destruição da floresta que, infelizmente, já foi iniciada. 11- O grande número de maciços do tipo Velho Guilherme na Amazônia e o fato que estes granitos estejam presentes em regiões muito distantes entre si, demonstra claramente que a Província Amazônica é uma das províncias petrológicas mais importantes deste gênero de intrusões no globo. Estes granitos se concentram na região Xingú-Araguaia (tipo Velho Guilherme), em Rondônia (granitos tardios de Rondônia) e no Território de Roraima (tipo Surucucu). Intrusões semelhantes são, no entanto, conhecidas nas regiões Tapajós-Jamanxim, Juruena-Teles Pires e Tumucumaque. Uma das características dos granitos anorogênicos é que eles conservam os mesmos caracteres petrológicos, enquanto que suas idades radiométricas contrastam vivamente de uma região a outra. Estes granitos formam em geral "stocks", grosseiramente circulares (em plano), que cortam de modo discordante a encaixante. Os biotita-granitos são o litotipo predominante, embora os maciços contenham, em geral, outras variedades (biotita-hornblenda-granitos, aegirina-riebequita-granitos, sienitos). As transformações tardi-magmáticas são extremamente importantes (albitização, cristalização de muscovita, fluorita e topázio), assim como as mineralizações (sobretudo em cassiterita). As analogias entre os granitos anorogênicos da Amazônia e os "younger granites" da Nigéria são impressionantes. Elas existem a todos os níveis: mineralógico, textural, químico e estrutural. A única diferença química que nós constatamos foi o caráter mais aluminoso de nossos granitos, em relação aos da Nigéria. È cedo ainda para concluir-se a respeito, mas, se esta diferença for confirmada pelos estudos vindouros, ela poderia explicar a menor importância (aparente ou real?) dos riebequita-granitos na Amazônia. É importante, no entanto, de salientar a grande diferença de idade entre granitos da Amazônia (Pré-cambriano) e os da Nigéria (Jurássico) e, também, a existência de granitos análogos aos anteriores no Camerum de idade terciária (BLACK e GIROD, 1970). Nós podemos assim concluir que os mecanismos capazes de gerar este tipo de granito se manifestaram em épocas muito diferentes e que eles se reproduziram, independentemente do tempo, de modo idêntico ou muito semelhante (única maneira de explicar o fato que eles tenham chegado sempre ao mesmo resultado). Uma das questões importantes a serem resolvidas nos próximos anos na Amazônia é a melhor caracterização dos outros granitos pós-tectônicos (tipo Serra dos Carajás), o que poderá confirmar ou não a sua separação dos granitos anorogênicos. Esta questão deve ser encarada de modo particular em cada região, em função da abundância de um ou outro destes tipos de granito.
Assuntos Granito Amazônia
Petrologia